domingo, junio 12, 2016

MINHA EXPERIÊNCIA COM O POLIAMOR




Aquí CUIDADO COM O AMOR ROMANTICO
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MINHA EXPERIÊNCIA COM O POLIAMOR
(Um não tão breve depoimento sobre o que ficou dessa experiência com o poliamor, só pra quem tiver interesse em saber mesmo…)
A primeira coisa que me perguntam, quando me adicionam a partir do grupo de POLI, é: “você pratica poliamor?”. Coerente. Raras vezes, a pergunta vem seguida de um debate ou discussão produtiva. Na maioria das vezes, seja uma conversa com homens ou mulheres, a pergunta que segue é “você curte mulher?”. Sem pudor algum. Sensato. A minha resposta tem sido “não” para ambas as perguntas.
Um breve resuminho. Meu nome é Paula Moraes, curso jornalismo, tenho 20 anos e sou hétero. Sim, já tive experiências afetivas (sim, exclusivamente afetivas) com garotas. E o que eu descobri com isso? Que eu estava certa desde o início: eu gosto mesmo é de homens. Inclusive, cheguei a gostar de um rapaz há anos atrás. Mas não era apenas gostar, era amar. Amor de verdade, daqueles que te fazem perder a noção do tempo, e tudo o que existe é um futuro a dois repleto de felicidades e etc. Até que eu me apaixonei por outro. Podia jurar que estava apaixonada, e fiz o garoto abrir mão de tudo no RJ pra vir passar um tempo comigo em MG. Durou duas semanas. Nunca soube se era paixão, atração ou distração. Sei que a relação não fluiu. Nem com um nem com o outro. Mas pelo outro era amor. E ele nunca saiu da minha vida de forma permanente. A relação sofreu transformações, mas o amor seguiu intacto. Nesse tempo, perdi a conta das relações que tive. Senti atração, paixão, desejo e muitas outras coisas. Em nenhuma delas constatei que era amor. Mas sei que poderia ser. E por isso continuei disponível para conhecer novos caras. Algumas relações duraram mais do que outras. Normal. Alguns rapazes não aceitaram bem a idéia de “dividir” uma mulher. E tentaram me aprisionar.
Então não. Eu não vivenciei um poliamor com essa configuração de estar com duas pessoas que também se relacionam entre si. Até mesmo porque, o poliamor nunca teve esse conceito pra mim. Eu e o Lucas conversamos muito antes de criar o grupo aqui de BH. A idéia era reunir adeptos, simpatizantes e curiosos sobre o assunto. Não porque já tivéssemos vivenciado. Mas porque tínhamos uma idéia em comum do que era o tal poliamor, e achávamos que faltava espaço para a discussão. Então alimentamos a idéia. Raras ocasiões o grupo foi, de fato, um espaço para o diálogo. As conversas que vieram até mim por inbox, na maioria das vezes, não passaram do “você curte mulher?”. Porque eu sabia onde terminaria. E se eu tivesse procurando por ménage com um casal, certamente não seria na comunidade de poliamor. Mas foi o que o grupo significou pra muita gente que surgiu por aí: um espaço para casais caçarem mulheres para práticas sexuais. Não falo só por mim. Sei que aconteceu o mesmo com outras garotas do grupo. Longe de mim condenar pessoas em busca de aventuras sexuais, mas acontece que o grupo não foi criado, inicialmente, com esse intuito.
Voltando. A minha experiência aqui no grupo. Conheci pessoas bacanas aqui no grupo e no grupo de poli nacional. (uma delas, inclusive, foi uma garota que entrou numa roubada comigo, e hoje é uma grande amiga). Tive experiências enriquecedoras e decepções terríveis. Mas infelizmente, o saldo de toda essa experiência, até o momento, foi mais negativo do que positivo. Talvez porque coloquei expectativa onde não devia.
E o que eu penso sobre o poliamor? Desde o início, não vi o poli como padrão, modelo ou convenção. Eu detesto padrões, modelos ou convenções. E talvez por isso não tido êxito nas minhas relações mono. O poli sempre foi uma possibilidade. De me relacionar com quem e quantas pessoas eu quisesse, com consentimento de todos os meus parceiros envolvidos. Mas longe de ser uma obrigação, um modelo a ser seguido. Um quebra-cabeça onde meus parceiros fossem peças a serem encaixadas. Confesso, era ideal que eu pudesse ter mais de um parceiro. Mas nunca vi isso como ideal de satisfação e felicidade. Talvez tenha colocado muita expectativa porque as experiências mono não foram tão satisfatórias. E a idéia de ir pelo caminho diferente, já fosse algo seguro de que daria certo. E não deu. Até agora. O poli sempre foi a possibilidade de estar com alguém, mas em caso de aparecer outro alguém, eu estar disponível para descobrir o “e se?”. Contanto que isso não magoasse meu parceiro. Podia ser ou não podia. Simples. Livre. Como eu pressupus.
O que as experiências com o pessoal de poli me mostraram? Como já disse Ivan Martins, “O universo dos relacionamentos é mesmo uma espécie de continente, sempre à espera de ser explorado. Ele nos conduz a lugares onde nunca estivemos, nos descortina paisagem interiores que não sabíamos existir, nos transforma de fora para dentro – e, então, de dentro para fora –, abre portas e cria novas formas de lidar com a vida.” As experiências serviram pra reforçar essa idéia. Mas o resultado que tive através do contato com homens e casais que me encontraram a partir do poliamor foi diferente. Percebi que os homens que buscam “relações livres dos moldes monogâmicos” não desconstruíram a idéia antes de sair à caça. Basicamente, eles buscam sexo livre, através do discurso do amor livre. Quando na verdade, eles não estão buscando amor. Percebi que os casais que buscam “outro alguém para incluir na relação”, nada mais buscam do que aventuras sexuais a três. Os homens que clamam pelo “amor sem posse”, tem uma dificuldade enorme em deixar a parceria livre e disponível para outros homens. Existe uma resistência enorme nisso por trás do discurso da tal liberdade. Quando deveria ser simples. Nesse um ano e meio de administradora do grupo, me doei para relações e fantasias sem esperar muito em troca – além de respeito (o básico). E quanto mais eu cedia, mais o parceiro insistia na idéia de “se você ficar com uma garota vai acabar gostando e podemos ser felizes juntos”. Nada contra, mas nunca foi algo para o qual eu me dispus. Então emendei relações em outras, que na verdade queriam coisas muito semelhantes: que eu curtisse a parceria que eles já tinham, ou que eu ajudasse na caça por outra garota. Quando na verdade eu nunca quis isso. Acabava me anulando nas relações por não conseguir oferecer algo para o meu parceiro que desde o início ele sabia que era inviável.
Outro ponto. As pessoas tem uma capacidade enorme de se frustrarem quando o modelo falha ou nunca acontece. É o que eu mais vi. As pessoas sentem-se tão livres com a idéia do “amor livre” ou “poliamor”, e acabam prisioneiras de modelos “ideais” que nunca funcionam na prática. Na maioria das vezes, porque eles tem medo da prisão que pode ser o amor mono. Fala-se tanto em fugir dos moralismos sociais, das convenções histórico-sociais, em romper e desconstruir os valores cristãos, mono e heteronormativos, e eu realmente acredito que é necessário repensar muitas coisas na sociedade atual. E uma delas é o papel da mulher. Nas relações, na sociedade, no trabalho, etc. Mas não vi o poliamor contribuindo nesse sentido. Pelo contrário, vi uma opressão muito forte no que diz respeito a posição da mulher. Em várias circunstancias me senti oprimida, sendo o elo mais frágil de um “triângulo amoroso”, sendo a pessoa procurada só para sexo, ou não tendo os mesmos direitos numa relação, do qual os homens dispunham. Não porque eu não soube me posicionar, mas porque não houve aceitação da parte deles. Eu acredito que o ato de questionar, de desconstruir, de construir um pensamento e uma filosofia de vida, são passos importantes. Mas não deve ser só com o intuito de “fazer o diferente do que todo mundo faz”. Deve ser consciente, e em concordância com nossas pré-disposições, limites, valores e interesses. Deliberadamente.
Então meio que copiando o trecho de uma garota que fala também sobre sua experiência com o “poliamor disfarçado”, posso afirmar que “eu até gosto de sexo-livre, quando a relação me deixa bem consciente do que tá acontecendo. Eu tenho tesão, gosto de dividir essa disponibilidade com alguém. Sexo é divertido, gostoso, saudável. Mas são pessoas. Ou seja, são pessoas com quem me relaciono. E pra mim, por ser mulher, preciso parar e pensar a cada momento sobre qual papel eu estou ocupando. Resumindo: ter sexo livre da forma sacaneada como ele acontece, principalmente pras mulheres, não vai sanar minha sede por relações verdadeiras num mundo caótico. Não vai.”
Outro dia falei aqui no grupo algo sobre interpretações. E que tudo que a gente vive e aceita, e adota, e enfim, tudo passa por aí. Temos interpretações distintas de coisas que lemos, que vemos, que vivenciamos, porque temos experiências distintas. E ponto. Há quem interprete esse desabafo como um desabafo da minha própria frustração com minhas experiências não mono. Mas a minha interpretação é exatamente isso: a minha interpretação, nesse um ano e meio de grupo, sobre o que eu vi, vivi e me permiti aqui no grupo e com pessoas do grupo.
Sigo com o preceito básico de que o amor não deve ser outra coisa se não livre. Mas acontece que até mesmo a liberdade tem interpretações distintas. Nunca me senti atraída por padrões, modelos e convenções. Acredito em entrega. “Relações livres, ou qualquer uma que se disponha a questionar a monogamia, não diz respeito a quantos parceiros sexuais você tem. E sim à forma como você se relaciona.”
O que ficou dessa experiência? Não, eu não descobri que eu me encaixo num molde ou em outro. Ou que assim é certo e daquele jeito é errado. Descobri que posso me permitir. Que todos podem, e essa é a graça de ser livre. E isso por si só, já é incrível. Descobri também que o amor, o convívio, a entrega, a construção de uma relação são profundamente transformadores. Sobretudo porque são opcionais.
(Bem, quem tiver algum depoimento, observação sobre a própria experiência com o poliamor e sentir-se à vontade para compartilhar, conversar e será bem vindo no meu facebook.)

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